O Potássio é um dos macronutrientes primários essenciais para as plantas, representado pelo símbolo K e expresso na agricultura (rótulos de produtos, por exemplo) como K2O (Óxido de Potássio). É conhecido como o elemento da qualidade pois está envolvido em diversos processos do metabolismo das plantas, como ativação de enzimas, regulador de pressão osmótica (entrada e saída de água das células), abertura e fechamento de estômatos, além de possuir grande mobilidade no solo e nas plantas. Ele é absorvido na forma de íon de carga positiva K+, preferencialmente via radicular.
Além de ser um elemento essencial, a sua atuação conjunta com outros elementos, assim como a exemplo do Nitrogênio, pode influenciar diretamente nos processos que regem o crescimento das plantas. Um exemplo prático disso é a relação entre o Nitrogênio e o Potássio: a variação na relação entre suas proporções oferecidas às plantas pode ora gerar estímulos mais vegetativos ou generativos (relação alta em Nitrogênio para um crescimento vegetativo; relação alta em Potássio para um estímulo generativo). De fato, este é um exemplo de trabalho conjunto ao Potássio que possibilita o maior controle e gestão por meio da nutrição, e que se transforma em uma ferramenta importante para maximizar os resultados de produtividade de acordo com os objetivos produtivos desejados.
Existem diversas formas de fornecer o Potássio demandado pelas culturas para atingir altas produtividades. Ao conhecer e entender cada tipo de fonte de Potássio, identificamos vantagens, e alguns pontos de atenção para o conhecimento, como podemos observar no quadro abaixo:
Afinal, quais as funções do potássio no metabolismo das plantas?
O Potássio possui diversas funções no metabolismo das plantas durante todo o ciclo, como podemos observar no quadro a seguir:
Por ser um macronutriente primário, o Potássio é demandado durante todo o ciclo das culturas e em grandes quantidades. Entretanto, existem algumas fases de desenvolvimento específicas do ciclo em que este nutriente tem uma maior exigência, principalmente em momentos de florescimento, onde o Potássio estimula o comportamento generativo e reprodutivo da cultura, e frutificação da cultura, visto que este elemento está diretamente envolvido na distribuição dos açúcares gerados nas folhas para o enchimento (acúmulo de matérias seca) dos frutos ou os órgãos de reserva, tendo relação direta com o peso e a qualidade do produto final comercializado.
A deficiência no fornecimento do Potássio para as plantas de acordo com suas reais necessidades pode levar a diversas falhas nos processos metabólicos e seus sintomas, que são:
Assim como a deficiência, o excesso do nutriente também pode trazer alguns problemas para a cultura:
Atualmente no mercado existem diversas fontes nutricionais utilizadas para o fornecimento de Potássio. Cada uma possui um percentual do nutriente em sua composição e uma característica química e física, sendo necessário analisar e levar em consideração as características do seu sistema produtivo para avaliar qual fonte é a mais adequada a se utilizar.
Dentre as opções no mercado, as três fontes mais utilizadas hoje são: Cloreto de Potássio, Sulfato de Potássio e Nitrato de Potássio. Pensando nisso, reunimos abaixo algumas características importantes a serem observadas nos rótulos em relação as tais fontes:
Como podemos analisar na tabela, cada fonte possui uma característica de composição, índice salino e solubilidade. Hoje na agricultura, a fonte mais utilizada é o Cloreto de Potássio, principalmente devido ao seu baixo custo inicial. Mas devemos nos atentar que, além do fornecimento do Potássio, ele também aportará Cloro (quase metade da composição total), que é um micronutriente também essencial, mas que é requerido em baixas quantidades pelas plantas. Assim, o Cloro contido naturalmente na água e no solo já é o suficiente para suprir a demanda das culturas.
Trazendo essa informação para uma situação prática: vamos supor que durante o ciclo de uma determinada cultura, seja necessário aplicar 100 kg de Potássio (segundo a curva de absorção dela):
Considerando que o requerimento médio das culturas seria de 8 a 10 kg de Cloro por hectare, e que esta demanda é suprida pelo solo e pela água da chuva, o que ocorre com esse Cloro em excesso (no caso do exemplo, 85 kg de Cloro remanescente)? Por ser um íon de carga negativa e altamente móvel no solo e na planta, ele compete pela absorção com outros íons que são macronutrientes, como o Nitrato (NO3–), o Fosfato (HPO42-), e o Sulfato (SO42-), circunstância que pode indiretamente resultar em sintomas de deficiência, consequentemente reduzindo o potencial produtivo da cultura.
Além disso, o Cloreto de Potássio, dentre as fontes de K, é o que possui maior índice salino. Isso afeta diretamente a condutividade elétrica (EC) da solução nutritiva ou do solo, sendo que ela terá seu manejo limitado devido aos cuidados com a EC limite de cada cultura. É importante salientar que ao se atingir o patamar de condutividade elétrica recomendado à cultura, isto não significa que estamos entregando uma solução tão nutritiva quanto a planta necessita.
De fato, sabemos que é imprescindível neste caso avaliar quais elementos estão formando esta condutividade elétrica, se ela contempla em solução a diversidade em elementos que realmente são essenciais à planta e em conformidade com a sua demanda. Por exemplo, comparando dois tipos de fontes para o aporte de Potássio em soluções separadas: Cloreto de Potássio (solução 1) versus Nitrato de Potássio (solução 2). Em ambas as fontes e soluções correspondentes, estamos oferecendo o aporte do elemento Potássio em conjunto com um segundo elemento. No primeiro caso, este segundo elemento é o Cloro e, na outra solução é o Nitrogênio (em forma de nitrato). Comparando as duas soluções, veremos que qualitativamente a formação da CE e do aporte nutricional diferem entre si: a primeira solução (Cloro + Potássio) nos confere um fornecimento desnecessário em Cloro, fato que contribui ainda com quesito salinidade e riscos de toxicidade às plantas. Já a segunda solução é composta por potássio e Nitrogênio, ou seja, uma combinação mais interessante do ponto de vista de nutrição da planta, que além de entregar dois elementos essencialmente necessários, não contribui com o incremento da salinidade. Conseguimos formar uma solução mais completa do ponto de vista nutricional sempre que usamos fontes com menores índices salinos.
Além do mais, não podemos esquecer de outra consideração associada ao uso de fontes com aporte simultâneo em Cloro. Ao absorver o Cloro (altamente salino) em detrimento dos outros íons, a planta necessitará equilibrar seu potencial osmótico (devido ao aumento de concentração de sais em seu interior), absorvendo mais água, o que pode resultar em aumento excessivo da turgescência, amolecimento das folhas (maior susceptibilidade à doenças) e acúmulo de água nos órgãos de reserva (frutos, tubérculos, grãos), dificultando o acúmulo de matéria seca, e consequentemente o peso e qualidade do produto final. Em caso de acúmulo excessivo desse íon no solo ou no bulbo úmido das plantas, as plantas podem ter dificuldade de absorção dos nutrientes, além de haver risco de queima de raízes e borda de folhas.
Na foto abaixo podemos observar um exemplo prático da diferença na qualidade do produto final e do tempo de prateleira decorrente de uma nutrição à base de fonte de Potássio sem Cloro versus à base de Cloreto de Potássio:
Depois de colhido, o tomate à esquerda manteve sua qualidade e peso. Já o tomate à direita, devido ao acúmulo de água por conta da nutrição à base de Cloreto de Potássio, perdeu água para o ambiente ao longo do tempo e ficou com a casca com aspecto “enrugado”.
Além do Cloreto de Potássio, existem mais duas fontes do elemento, mas que são livres de Cloro. O Sulfato de Potássio contém 52% de K2O em sua composição, e outro nutriente que é o Enxofre, na forma do íon Sulfato (SO42-). Esta fonte tem um índice salino menor que do Cloreto de Potássio e aporta também o Enxofre, macronutriente secundário. O ponto de atenção em relação ao Sulfato de Potássio é sua solubilidade, que como podemos observar na tabela é a menor entre todas as fontes. Por isso, pode existir alguma dificuldade na solubilização desta fonte, seja quando aplicada no solo (granulados) ou na solução nutritiva da fertirrigação, principalmente em temperaturas mais baixas. Além disso, essa fonte possui incompatibilidade com fertilizantes que contenham Cálcio (devido à reação do Cálcio com o Sulfato, formando Sulfato de Cálcio), causando a formação de precipitados e consequente indisponibilidade dos nutrientes, além de possíveis problemas quanto a entupimentos no sistema de fertirrigação (mangueiras e emissores).
A última fonte de Potássio que vamos apresentar é o Nitrato de Potássio (KNO3). Levando em conta suas características, ela é a mais vantajosa em termos nutricionais e de aproveitamento para as plantas, e também em termos de manejo de solução nutritiva. Isso porque suas características físico-químicas a definem com:
Além da alta solubilidade, podemos destacar a alta eficiência do Nitrato de Potássio, pois a sua composição com Nitrogênio 100% na forma nítrica permite o que chamamos de interação de sinergismo durante a absorção, ou seja, a planta gasta menos energia durante o processo pois um íon ajuda na absorção do outro. Além do Potássio (K+), o Nitrato também tem uma interação de sinergismo com outros macronutrientes de carga positiva da solução do solo, como a exemplo do Cálcio (Ca2+) e Magnésio (Mg2+), e micronutrientes como Ferro (Fe+2) e Zinco (Zn+2).
Sinergismo e Antagonismo
A presença constante de Potássio disponível para absorção pelas plantas gera uma condição ótima de regulação osmótica e abertura estomática na planta. Dessa forma, o Potássio atua de maneira indireta com sinergismo de absorção pela maioria dos outros nutrientes pelas plantas.
Entretanto, é necessária atenção ao elaborar uma solução nutritiva ou aplicação de Potássio no solo: ao passo que ele possui sinergia de absorção com o Nitrato, este elemento tem relação de antagonismo com Cálcio e Magnésio. Tal fato é natural se observar, visto que os três são íons de carga positiva. Assim, se o K estiver em quantidades muito altas, pode haver uma inibição na absorção do Ca e do Mg, causando sintomas de deficiência. Por isso, é necessário atentar para o equilíbrio K:Ca:Mg para que o primeiro não prejudique a absorção dos outros. Outro íon importante que tem relação de antagonismo com K, Ca e Mg é o Nitrogênio amoniacal (NH4+), oriundo de fontes como MAP, DAP, Sulfato de Amônio e Nitrato de Amônio: é importante verificar a concentração desses cátions tanto no solo quanto na água de irrigação para evitar o eventual comprometimento da absorção.
Outro ponto importante a salientar em relação ao Nitrato de Potássio é o seu baixo índice salino: isso permite que a planta não acumule água demasiadamente em seu interior, o que em prática favorece a obtenção de um melhor acúmulo de matéria seca e peso do produto final.
As fontes que abordamos aqui podem ser encontradas tanto na forma granulada, em pó (hidrossolúveis) ou líquidas. A sua forma de aplicação vai depender das suas necessidades e recursos disponíveis. Mas é importante conhecer algumas informações independentemente de como o fornecimento deste nutriente será feito.
Todas as três fontes podem ser utilizadas como fontes para hidrossolúveis, sendo aplicados via solução nutritiva (ex.: sistemas fertirrigados ou hidroponia) para absorção radicular e via foliar como também sob forma de fertilizantes granulados para aplicações de cobertura via solo. Porém, é necessário estar atento às perdas do nutriente conforme o sistema de cultivo e manejo utilizado. O Potássio não apresenta tendência a formar precipitados com outros nutrientes no solo, portanto, na maioria das vezes ele está disponível para ser absorvido. As duas principais maneiras de ocorrer redução da disponibilidade de Potássio para as plantas são adsorção e lixiviação.
No processo de adsorção no solo o Potássio pode ficar “preso” junto às partículas do solo, dessa forma ele fica indisponível temporariamente para absorção pois não está na solução do solo. Entretanto, isso não significa que posteriormente ele não poderá ser disponibilizado. Para driblar esta questão da adsorção e enfim viabilizar a sua disponibilidade em solução, devemos regular o pH do solo.
Nessa situação, para sua disponibilização, regulamos o pH do solo ou entregamos uma quantidade de Potássio superior àquela que o solo consegue prender, assim conseguimos manter o Potássio disponível na solução do solo.
As fontes potássicas são, em geral, de alta solubilidade. O íon de Potássio não é um elemento que sofre fixação pelos coloides do solo (interação mais forte que a adsorção). Pelo contrário, de fato ele possui alta mobilidade no solo, podendo assim, ser facilmente lixiviado (“lavado”) para os perfis mais profundos do solo, longe das raízes. Sendo assim, é muito importante o cuidado com o excesso de aplicações para evitar a salinização do solo e a lixiviação do nutriente, deste modo sempre levando em conta o manejo adequado da irrigação e da fertirrigação quando houver, principalmente em solos arenosos, a fim de evitar as perdas de nutriente para o ambiente e consequentemente desperdícios financeiros para o produtor.
Além das três principais fontes potássicas que citamos aqui, existem outras disponíveis no mercado, mas que são utilizadas de forma menos relevante. Confira na tabela a seguir:
Como vimos anteriormente, cada fonte potássica possui sua característica. Em geral, devemos ficar atentos a alguns pontos para fazer a escolha mais adequada para seu manejo e sua cultura:
Portanto, é essencial ficar sempre atento aos rótulos e observar quais são as fontes nutricionais, a composição e as características de índice salino e solubilidade das mesmas, passo importante para a escolha e manejo adequado de sua cultura.
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