Assim como acontece com os seres humanos, as plantas também apresentam demandas nutricionais como condição para o start dos seus processos metabólicos básicos, bem como para assegurar o seu pleno desenvolvimento. Ao longo dos diferentes estádios fenológicos que compreendem o seu ciclo de vida (emergência, desenvolvimento vegetativo, floração, frutificação), alguns nutrientes têm atuação mais decisiva sobre a transformação da planta, no seu direcionamento e na expressão de todo seu potencial produtivo. O Nitrogênio e o Potássio são dois macronutrientes essenciais para as plantas, dois dos mais importantes nutrientes minerais.
A ausência do Nitrogênio e do Potássio impossibilita o desenvolvimento completo, e ambos em equilíbrio no metabolismo das plantas tornam-se uma ferramenta muito importante na gestão do manejo nutricional, entenda:
Além das condições ambientais como a oferta de água, luz e temperatura na medida certa, sabemos que o desenvolvimento das plantas também está condicionado à disponibilidade de um conjunto de elementos minerais na solução do solo, como a presença de N, P, K, Ca, Mg, S, B, Fe, Zn, Cu, Mo, Ni, Mn, Cl. Estes, por sua vez, desempenham funções específicas e são requeridos pelas plantas em diferentes quantidades, sendo que a evolução das fases fenológicas traz consigo uma influência maior ou menor na potencialização, por exemplo, do crescimento vegetativo, na translocação de fotoassimilados pela planta para enchimento de órgão reservas, desenvolvimento de flores e frutos e na qualidade de pós-colheita.
Neste contexto, sem minimizar a essencialidade e relevância dos demais nutrientes, assim como aplica a Lei do Mínimo, o Nitrogênio e o Potássio merecem uma atenção em especial: o trabalho de ambos em conjunto acarreta respostas fisiológicas significativas, bem como tem efeito sobre a performance da planta. Logo, a interação entre esses elementos nos viabiliza uma ferramenta implícita de manejo nutricional das culturas em geral.
Tomando-se separadamente cada elemento, cada um possui atuações distintas no metabolismo vegetal. A exemplo do Nitrogênio, sabemos que ele está envolvido na síntese de aminoácidos e proteínas, além de fazer parte de compostos metabólicos, como a clorofila (pigmento responsável pela captação de luz no processo de fotossíntese), favorecendo o crescimento vegetativo. O Potássio é conhecido como o elemento da qualidade e participa da formação e amadurecimento dos frutos, aumenta a rigidez dos tecidos além de favorecer o desenvolvimento radicular. Porém, tão importante quanto conhecer a função de cada um desses dois nutrientes na planta, é entender a relação que existe entre eles e o efeito dela no desenvolvimento da cultura.
Sabemos que a planta produz sua energia vital por meio da fotossíntese, os produtos energéticos (açúcares) oriundos deste processo são alocados nos diferentes tecidos conforme sua necessidade e são regidos em princípio por um mecanismo conhecido por relação fonte – dreno. É justamente sobre este mecanismo que o Nitrogênio e o Potássio apresentam grande influência, ainda mais associando-se as suas respectivas funcionalidades na planta, a interação em concomitância destes elementos tem impacto direto sobre muitos fatores, como a produção de matéria seca, produtividade, qualidade dos frutos e até sobre a resistência a eventuais doenças.
Fazendo-se uma analogia, o trabalho em simultaneidade entre o Nitrogênio e o Potássio seria como se fosse um volante de automóvel, ora girando para direita, ora para a esquerda: direcionando os fluxos de energia inerentes à dinâmica do que é produzido pela planta para as diferentes estruturas dreno (raiz, folhas, flores, frutos, etc.), conforme o comando da relação estabelecida por estes dois elementos. Como fazemos na prática para movimentar esse volante? Para tanto, devemos compreender primeiramente com maior profundidade como ocorre esta relação e como ela funciona.
Trata-se de uma relação de proporção que associa as quantidades de Nitrogênio e Potássio fornecidos em cada fase fenológica da cultura. Podemos considerar a relação N:K como uma ferramenta de gestão do crescimento da planta, o que ao mesmo tempo nos viabiliza o maior controle sobre inúmeros processos que ocorrem, por exemplo, sobre o estímulo do crescimento, do florescimento, definição do potencial produtivo de uma cultura ou até mesmo melhoria da eficiência metabólica da planta em geral.
A interação entre o Nitrogênio e o Potássio se dá em vários locais e momentos no sistema solo-planta. Dessa forma, além dos já mencionados estímulos fisiológicos, a interação poderá ocorrer também no solo e na rizosfera, onde devem ser considerados os processos de antagonismo e sinergismo entre os íons (em função de suas cargas) para a adequada absorção deles. Exemplo: forma do Nitrogênio disponibilizado: nitrato (NO3–) possui sinergia com o Potássio (K+), diferente do amônio (NH4+). Portanto, é compreensível salientar que toda a dinâmica desses nutrientes nos vegetais é afetada pelas fontes utilizadas, o que em prática nos exige o cuidado durante a nutrição para que os nutrientes estejam em acordo com a fase fenológica da cultura (demanda nutricional e objetivo produtivo), para oferecer um perfeito balanço entre eles. Vejamos o exemplo a seguir que apresenta o ciclo da cultura do tomate e os ajustes nutricionais em relação à proporção de Nitrogênio e Potássio ao longo das diferentes fases fenológicas do cultivo:
Esquema ilustrativo do ciclo do tomateiro sob o conceito de ajuste da relação N:K conforme a evolução das fases fenológicas da cultura.
Observamos que à medida do desenvolvimento do tomateiro, os balanços são ajustados e as relações alternam conforme as transformações morfológicas da planta. Vale lembrar que o valor descrito na de Relação N:K expressa a quantidade de Potássio a ser aplicada para cada unidade de Nitrogênio, ou seja, uma relação 1:2 significa dizer que existem duas unidades de Potássio para cada uma de Nitrogênio.
Na prática e no campo os efeitos intrínsecos ao ajuste desta relação serão observados por meio dos estímulos sobre a fenologia. Por exemplo, em um programa nutricional que ofereça uma relação N:K com maior proporção de Nitrogênio, a planta certamente imprimirá um comportamento mais vegetativo, ou seja, a planta tenderá a investir sua energia na produção de folhas e no alongamento de caule bem como no desenvolvimento radicular. Já na condição de relações com maior aporte de Potássio, o comportamento será mais generativo, isto é, a planta mobilizará seus recursos de maneira a favorecer a reprodução e enchimento de órgãos de reserva.
Em resumo, podemos correlacionar isso às necessidades nutricionais da planta de acordo com as fases fenológicas e com as funções de cada um desses nutrientes: o Nitrogênio é um grande responsável pelo alongamento celular e produção de proteínas e estruturas de crescimento, e o Potássio responsável pela translocação de fotoassimilados (carboidratos produzidos na fotossíntese) para os novos drenos.
Isto não significa que durante seu desenvolvimento vegetativo a planta não tenha exigências de Potássio, ou que durante a fase reprodutiva a planta não necessite de Nitrogênio. Ambos são essenciais durante todo o ciclo, mas a exigência muda ao longo das fases fenológicas, e é por isso que o programa nutricional e a relação N:K do cultivo devem ser ajustados de acordo com o estádio fenológico.
Pensando na prática, reunimos abaixo um breve resumo para caracterizar os dois tipos de crescimento:
“A toda ação existe uma reação e no universo das plantas tal afirmação não é diferente”
Sendo assim, tanto a disponibilidade quanto o balanço de tais nutrientes em cada etapa da vida da planta terão impactos significativos, e justamente por isso que o domínio da relação N:K se torna evidente.
Quando se conduz a cultura com o equilíbrio entre Nitrogênio e Potássio equivocado, a tendência é que se produza frutos sem uniformidade de diâmetro, mal preenchidos e ponteiros malformados. O adequado balanço da relação entre Nitrogênio e Potássio possibilita:
Por meio da aplicação deste conhecimento sob o viés de uma ferramenta no campo, você poderá estimar, controlar, acelerar ou até mesmo otimizar o desempenho da sua cultura. Por isso, não esqueça da relação N:K ao elaborar seu programa em nutrição de plantas.
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