No tópico onde abordamos o assunto “Absorção de Nutrientes”, vimos que as plantas não absorvem o fertilizante em si, mas sim os nutrientes, ou seja, os elementos que compõem essa fonte nutricional. Sabemos que uma vez em solução, os nutrientes encontram-se na forma de íons livres, podendo possuir cargas positivas ou negativas. Mas o que o conhecimento desta caraterística dos nutrientes tem de tão importante para o produtor? Não é tão evidente, mas a presença destas cargas confere aos nutrientes o estabelecimento de interações, o que de fato pode vir a dificultar ou favorecer o processo de absorção dos mesmos pelas plantas. Estas interações às quais nos referimos são conhecidas por relações de sinergismo e de antagonismo entre os nutrientes.
A relação de sinergia ou antagonismo nada mais é, respectivamente, que uma relação de favorecimento ou comprometimento do processo de absorção de nutrientes. Em outras palavras, elementos de cargas opostas (+/-) tendem a estabelecer um sinergismo durante o processo de absorção, isto é, se “ajudam” quando aplicados em conjunto, facilitando a absorção pela planta. Já os de cargas semelhantes (+/+; -/-) formam uma relação inversa, sendo que o excesso de um desses nutrientes prejudica a absorção do outro.
Podemos pensar como os ímãs: quando unimos o polo norte de um ímã com o polo sul de outro, eles se juntam automaticamente. Já quando juntamos dois polos iguais, eles se repelem.
Por isso, ao buscar pela maior otimização e melhor aproveitamento dos nutrientes essenciais à planta, é importante que sejam fornecidos nutrientes com cargas sinérgicas entre si, onde a presença de uma dessas cargas favoreça a absorção da outra, otimizando o processo de absorção. Do contrário, quando fornecemos nutrientes em que as cargas entre elementos são iguais, criamos uma condição de “competição” pela absorção, ou seja, uma interação de antagonismo, o qual consequentemente terminará por causar um quadro de deficiência de um desses elementos, trazendo consigo o atraso ao desenvolvimento vegetal.
Quando conhecemos quais fontes nutricionais estão disponíveis no mercado, tudo fica mais fácil e nossas escolhas são mais assertivas. Com esta prática, podemos analisar os produtos através do rótulo: observar o percentual de cada nutriente que está contido no produto e quais as suas matérias-primas, otimizar as possíveis interações entre nutrientes e consequentemente escolher quais são os mais adequados e eficientes para utilizarmos em um determinado tipo de manejo. Desta forma inúmeros benefícios são advindos: evitamos perdas e desperdícios de fertilizantes, maximizamos a absorção dos nutrientes mais importantes para determinada fase fenológica da cultura, sendo possível fazer também a manutenção da relação N:K desejada para o estágio de desenvolvimento. Já se forem aplicadas fontes nutricionais que favoreçam o antagonismo entre os nutrientes, aquele elemento que for absorvido em quantidades insuficientes poderá implicar fatalmente no surgimento de sintomas de deficiências, levando a uma redução na produtividade da cultura.
No processo de absorção de nutrientes realizado pelas plantas, é essencial promover o balanço entre cargas positivas (cátions) e cargas negativas (ânions). Para compreendermos melhor o assunto, abaixo encontramos uma tabela resumo reunindo os principais nutrientes com suas respectivas fórmulas e cargas:
Além de observarmos as possíveis cargas dos elementos em função das suas respectivas fontes, é importante lembrar também que o elemento que você quer fornecer para a planta nem sempre é expresso da mesma forma na sacaria ou rótulo dos fertilizantes. Assim sendo, cada nutriente tem uma forma pela qual é absorvida pela planta e tal conhecimento é fundamental para correta análise, como verificamos no quadro a seguir:
A presença das cargas nos nutrientes estabelece relações que podem ser favoráveis ou desfavoráveis no processo de absorção entre nutrientes, tudo isso na medida da interatividade vinculada à escolha das fontes nutricionais. As Fontes Nitrogenadas, por exemplo, podem ser tanto de natureza Amoniacal (NH4+), Nítrica (NO3–) ou até mesmo Amídica (NH2), características estas que acabam por influir em comportamentos distintos no que tange o desempenho e eficiência da absorção de outros íons, estabelecendo ora interações de antagonismo, ora de sinergismo, conforme podemos observar na ilustração abaixo:
O Nitrogênio Amoniacal, encontrado em fontes como Sulfato de Amônio, Nitrato de Amônio, MAP e DAP, possui carga positiva (NH4+), propriedade essa que pode implicar em algumas consequências sobre a dinâmica de assimilação de nutrientes do solo pelas raízes. Em virtude da carga positiva do íon amônio (NH4+), temos o estabelecimento de uma interação de antagonismo indesejada com outros íons de carga semelhante, como Potássio (K+), Cálcio (Ca2+), Magnésio (Mg2+) e sobre os micronutrientes metálicos positivos. Na prática, implica que durante o manejo, optemos por outras alternativas a fim de evitar tais interações e favorecer a absorção destes nutrientes, como por exemplo, através de uma possível substituição da fonte amoniacal por uma de natureza nítrica.
Entretanto, apesar dos antagonismos catiônicos acima, existem também situações em que a aplicação em equilíbrio do Nitrogênio na forma amoniacal em combinação a fase fenológica inicial da planta pode ser interessante e ao mesmo tempo de sinergia: auxiliando na otimização dos processos metabólicos quanto à absorção do elemento Fósforo, por exemplo. Em outras palavras, no início do desenvolvimento vegetal, a planta necessita de um aporte considerável de Fósforo, requerendo concomitantemente nesta fase de um “start de crescimento”, de uma fonte de nitrogênio que estabeleça uma interação de sinergia para com absorção mais rápida dos íons Fosfato (H2PO4–; HPO42-), os quais possuem carga negativa. Sendo assim, neste caso em específico, a opção por uma fonte nitrogenada que tenha uma parcela na forma amoniacalí(on que tem carga positiva e sinérgica ao fosfato), nos momentos iniciais pode ser mais eficiente na potencialização do “arranque” do desenvolvimento pela planta. Por isso que, em algumas formulações destinadas às fases fenológicas iniciais, se faz o uso de uma proporção adequada entre fontes nítricas e amoniacais.
Como solução alternativa ao antagonismo abordado anteriormente sobre o Potássio, Cálcio e Magnésio, as fontes baseadas no Nitrogênio na forma de nitrato (NO3–), ao contrário do amônio, trabalham em sinergia quanto à absorção destes elementos devido à atração estabelecida pelas particularidades das cargas opostas (NO3– x K+; NO3– x Ca2+; NO3– x Mg2+). Por isso é muito importante o cuidado na escolha das fontes nitrogenadas adequadas (seja nítrica ou amoniacal), para que esteja sempre em sinergia com outros íons essenciais aplicados. Quando optamos por fontes de origem Nítrica, ou obtendo um balanço ideal entre a forma nítrica e amoniacal, propiciamos a maior sinergia entre os nutrientes sendo aplicados.
Como vimos nos tópicos anteriores, a sinergia dos nutrientes é uma condição favorável à potencialização dos processos de absorção pelas plantas. Pensando nisso e para facilitar o entendimento, elaboramos uma tabela com as relações de antagonismos e sinergismos de acordo com o tipo de Nitrogênio que compõe as fontes nitrogenadas disponíveis no mercado. Confira a seguir:
Apesar do nitrato (NO3–) ser a forma preferencial de absorção de Nitrogênio pelas plantas, ele sofre antagonismo na presença do micronutriente Cloro (Cl–). Isso ocorre pois geralmente os fertilizantes que possuem Cloro em sua composição – como o Cloreto de Potássio, por exemplo – apresentam este elemento em altas porcentagens, causando excesso dele na solução do solo e, consequentemente, antagonismo a nutrientes mais requeridos pelas plantas. Isso causa deficiência e queda de produtividade.
Além do nitrato, o Cloro causa antagonismo com íons sulfatos e fosfatos. Isto é, quando aplicado com Nitrato de Potássio, Nitrato de Cálcio, Nitrato de Magnésio, a alta concentração do Cloro pode dificultar a absorção desta forma de Nitrogênio. O mesmo ocorre quando nos referimos às fontes fosfatadas (como Superfosfato Triplo ou Simples, MAP e DAP) e sulfatadas, (Sulfato de Potássio), referindo-se ao antagonismo em específico aos íons de fósforo e enxofre presentes nestas fontes.
Como podemos observar na tabela abaixo, existem no mercado diferentes fontes nutricionais que possuem em sua composição uma quantidade significativa de Cloro:
Outro nutriente importante para gerenciar melhor os devidos sinergismos e antagonismos é o Cloro. Apesar do Cloro ser um elemento nutricional essencial requerido em baixas quantidade pelas plantas, as fontes nutricionais mais tradicionais à base deste elemento possuem altas concentrações em suas formulações, muitas vezes sendo até mesmo maiores que o nutriente principal que precisa ser ofertado. Assim, além de causar antagonismo com Nitrogênio nítrico, Fósforo, Enxofre, Boro e Molibdênio, o Cloro também saliniza o solo e pode causar queima de raízes, com consequente redução na capacidade de absorção da planta. É muito importante conhecer as fontes nutricionais que estão sendo aplicadas na lavoura pois muitas vezes esse assunto relacionado ao Cloro não é levado em consideração gerando diversas perdas não percebidas.
Existem fontes nutricionais que são consideradas mais nobres e puras pois, entre outros fatores, não possuem o elemento Cloro em sua composição, possuindo baixo índice salino e que acabam por evitar os antagonismos descritos acima. Essas fontes nutricionais são as seguintes:
Sendo assim, compreender a importância da escolha das fontes nutricionais e suas particularidades passíveis de interferir na dinâmica interação durante a absorção possibilita a construção de forma mais segura, eficiente e econômica do programa de nutrição de uma cultura.
Já sabemos que o estímulo de desenvolvimento de uma planta, se vegetativo ou generativo, é resultado do balanço estabelecido entre Nitrogênio e Potássio. No mercado, existem diferentes opções de fontes nutricionais nitrogenadas e potássicas capazes de atender a demanda de tais nutrientes pela planta. Entretanto, quando buscamos aspectos que valorizam a qualidade da fonte, forma entregue do nutriente assim como sua eficiência de aproveitamento no campo, nos damos conta que nem todos eles são capazes de atender estas premissas em uma mesma fonte de nutrição, salvo o Nitrato de Potássio. Este por sua vez, aliando a assertividade da entrega dos nutrientes a eficiência de aproveitamento, pode ser mais interessante, principalmente por reunir muitos benéficos, tais como:
Por fim, além de ocasionar baixa interferência na salinidade do solo, o Nitrato de Potássio é um dos exemplos de fontes nutricionais que forma uma solução nutritiva de baixa condutividade elétrica e alta eficiência de absorção, favorecendo os devidos sinergismos e evitando antagonismos, tema deste capítulo. Por isso não esqueça: ao elaborar o seu programa nutricional e durante a condução e monitoramento do seu manejo, atente-se ao sinergismo e antagonismo entre as fontes nutricionais escolhidas, para a garantia de uma melhor eficiência e aproveitamento da sua nutrição.
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